quarta-feira, 16 de maio de 2012

BAILE DE FANDANGO EM MORRETES


PROJETO INTERFACE
OSS - Assoc. de Cultura e Cidadania de Sol a Sol
Kaaruara
elaboração e execução: Erly Ricci  e Silzi Mossato


Luis Fabiano Corujinha é músico e professor. Atua em espaço próprio, na Vila Santo Antônio, em Morretes, mas decidiu, que além de dar aulas de instrumentos e técnicas vocais era preciso dispor suas habilidades à revitalização da cultura fandangueira. Para ele, essa revitalização implica em resgatar a dança centenária, suas músicas e instrumentos. O caminho encontrado foi, junto com outros músicos, frequentar as aulas ministradas no Ponto de Cultura Casa Mandicuera e, ao mesmo tempo, fundar uma ONG para dar sustentação à proposta. Assim nasceu a ACAMFAM – Associação Cultural dos Artistas, Músicos e Fandangueiros de Morretes. A legalização da mesma foi marcada com a promoção do Baile de Fandango, no penúltimo dia da Festa Feira de Morretes. Ao lado de Luis Fabiano, nesta promoção, encontramos Luis Fernandes (dançarino de fandango), Fernando Nunes Cordeiro (viola caipira) e João Batista de Andrade (viola caipira).

Mestre Zeca e Aorélio Domingues
O baile promovido pela ACAMFAM contou com a presença de músicos e dançarinos da Casa Mandicuera.
Antes , os convidados do foram recebidos para o barreado, mas fandangueiros não esperam a hora marcada para tocar, e entre um prato e outro, uma dose de Mãe Cá Filha e outra, a roda foi formada e música encadeada, quase sem interrupção.

 Poro de Jesus, Aorélio Domingues, Mestre Zeca, Marcos Praga (o Praguinha), Miguel Martins (Mamangava) e seu irmão Darci Martins (o Bom Jesus), em parceria com tocadores locais, fandanguearam o jantar.
Marcos Praga (Praguinha)




Nesta noite o grupo de tocadores contou com a presenta de dona Aliete, mãe de Aorélio, que deu show a parte, tocando com um par de colheres.

A cantoria espontânea, que começa assim que dois ou mais tocadores de posse de algum instrumento se encontram, tem sido uma constante nos encontros mantidos com esses grupos, mas o baile de fandango foi espetáculo à parte, desencadeado pela afinação dos instrumentos, pelos testes de som, pelas brincadeiras entre os bailarinos e músicos. A descontração continuou quando os tocadores tomaram seus instrumentos e seus lugares e os dançarinos o espaço a frente. Tamise Fernandes Alves, Lenon Rodrigo, Elyson Domingues, Adriely Lang, Denis Lang, Bruno Alves de Oliveira e Paulo Henrique, formando a roda ou mostrando a agilidade com que os tamancos mostraram porque essa cultura merece esforços desprendidos para sua preservação e renovação.
Luis Corujinha, Mamangava, Bom Jesus, Poro de Jesus, Bruno e Aliete
Mas baile de fandango não é espetáculo para ser assistido. É para ser experimentado. Entre uma apresentação e outra, a plateia deixou de existir e protagonizou o espetáculo. Muitos, sem saber que o bailado conta a história da nossa colonização.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

PEQUENOS OBJETOS NA ARTE DE PORO DE JESUS

PROJETO INTERFACE - OSS e Kaaruara
elaboração e execução:  Erly Ricci e Silzi Mossato
 texto: Silzi Mossato 
fotos: Erly Ricci e Silzi Mossato 

Difícil obter uma foto da mão do artista, sem trêmulos ou sombras. A velocidade dos clicks não acompanham a velocidade dos dedos que agitam o instrumento. Mas depois de inúmeras tentativas, em dois encontros distintos, acertamos o foco. Postamos o resultado ao lado daquelas imperfeitas, pois na imperfeição,  a agilidade do instrumentista é revelada.
Poro, Jairo, Mamangava
Poro, Mestre Zeca, Aorélio Domingues
jantar em Morretes, antes do Baile de Fandango









Durante mais de 30 horas de permanência na Casa Mandicuera acompanhamos as idas e vindas de Poro de Jesus, que atravessava a arrumação do espaço para apresentações da Tato Criação Cênica com participação nas cantorias dos demais frequentadores. Entrava na roda com a alegria de menino que entra na brincadeira predileta e, com o mesmo humor, a deixava para cumprir com a tarefa do final de semana. Num desses intervalos apresentou o outro lado de sua arte: a produção de instrumentos e tamancos, em tamanho padrão e em miniaturas repletas de detalhes.

Eloir Paulo Ribeiro de Jesus, o Poro, integra o grupo que faz a gestão do Ponto de Cultura Casa Mandicuera, toca fandango com habilidade de mestre e produz no Atelier Rodrigo Domingues que compõe a associação. O adufo e a caixa são seus instrumentos, tanto para tocar quanto para produzir. Mas nas miniaturas reproduz também os instrumentos de corda e o faz com tal cuidado que pode-se arrancar sons dos pequenos objetos.




No segundo encontro Poro retornava da Ilha de São Miguel. Na noite anterior havia tocado no Baile de Fandango que marcou o encerramento da Romaria do Divino, mantida pela Casa Mandicuera sob coordenação do parceiro Aorélio Domingues. Na ocasião, estava em Morretes para outro baile,promovido pela ACAMFAM, Associação recém-criada por músicos morretenses, frequentadores das aulas de instrumentos da Casa Mandicuera. Mas as atividades fandangueiras diferem das produções a que estamos acostumados. A reunião para o barreado regado a “Mãe cá Filha' (cachaça com melado) que antecedeu ao baile, logo descambou para roda de fandango. E em roda de fandango, violeiros, rabequeiros, tocadores de percussão fazem revezamento sem escalas, com naturalidade e bom humor. Na ocasião, enquanto experimentávamos a parceria e o companheirismo raro que marca o grupo, conseguimos o registro fotográfico pretendido. Mas ele é um detalhe, apenas um detalhe, deste parnanguara, que na simplicidade de seus afazeres, faz a diferença na Ilha do Valadares e região.
Baile em Morretes - Poro e Aorélio com novos instrumentistas formados pela Casa Mandicuera,


domingo, 22 de abril de 2012

Lisístrata - uma guerra diferente

Durante o Festival de Teatro de Curitiba, na programação paralela do Fringe, entre os dias 05, 06 e 07 de abril, o auditório do Centro Feminino de Cultura do Paraná esteve lotado. O espetáculo Lisistrata, Sedução e Poder, montagem realizada pela Ferrata Produções em parceria com a OSS, sob a direção de Loana Terra, deu o que falar. Adaptado do texto original de Aristófane, a peça já não teve a mesma função de quando foi encenada pela primeira vez, em 411 A.C., mas de divertir com uma pitadinha de crítica política e social.


No elenco, Cristine Ferro, Fernanda Rocha, Flavia Santos, Fran Neneve, Gustavo Tredezini, Marcio Campos, Milaine Sena, Rodrigo Seco, Sarah Castilho, Loana Terra, Nicole K, Diego Rocha e Vitória Lins. Jul Leardini fez a sonoplastia. Alex Marques a iluminação e Eliane França cenografia e figurinos.


Lisístrata é o nome de uma comédia antiguerra escrita por Aristófanes em 411 a.C..
Na época em que foi escrita, Atenas atravessava um período difícil de sua história. Abandonados por seus aliados, os atenienses tinham ao redor das muralhas de suas cidades as tropas de Esparta. Essa luta fratricida enfraquecia a Grécia, pondo-a à mercê dos Persas e Medos. A peça de Aristófanes, faz uma crítica severa a essa guerra, envolvendo as mulheres das cidades gregas na Guerra do Peloponeso, lideradas pela ateniense Lisístrata, que decidem instituir uma greve de sexo até que seus maridos parem a luta e estabeleçam a paz. No final, graças às mulheres, as duas cidades celebram a paz. No Brasil, fizeram traduções do grego Adriane da Silva Duarte, Ana Maria César Pompeu, Mário da Gama Kury (este, contudo, fez adaptação para representações modernas).
Loana Terra fez uma nova adaptação da linguagem para os dias atuais, o que resultou numa comédia hilária. 



sábado, 21 de abril de 2012

Viola caipira na Casa Mandicuéra

Na foto podemos vê-los atentos às orientações dos mestres. Integram o grupo de aprendizes de viola de fandango, que nas tardes de sábado deixam a cidade de Morretes e seguem para a Ilha dos Valadares, em Paranaguá onde se unem aos outros alunos da Casa Mandicuera.
Viola Caipira         Viola de Fandango
Passam horas trabalhando a posição dos dedos e os acordes cuidadosamente indicados por Mestre Zeca. O esmero ajuda na transição de um a outro instrumento. São tocadores de viola caipira e serão tocadores de viola de fandango.
 No dia 30 de março, foram para o almoço e levaram seus instrumentos. Enquanto Denis Lang preparava a carne na chapa do fogão à lenha, exercitavam sequências e ritmos com o apoio de Aorélio Domingues. Mas depois do almoço e antes da tarde fandangueira nos presentearam com boas modas de viola, levadas com a simplicidade de quem toca com e por prazer.
 A habilidade à mostra, no improviso e sem esforço, remete ao comprometimento no aprendizado do fandango. Postura de músicos que se apropriam da própria cultura e a transmitem, com honestidade. João Batista S. De Andrade e Fernando Nunes Cordeiro enriquecem as manifestações culturais do litoral paranaense.


Fotos Erly Ricci e Silzi Mossato

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Aula de Fandango na Casa Mandicuéra


Aorélio nunca pára. Está sempre fazendo alguma coisa, e quase nunca pra si mesmo. Ministra aula de viola fandangueira, ritmos do fandango caiçara, marcas e versos, concede entrevista, lida na cozinha, ensina a construção de instrumentos típicos da cultura caiçara (rabeca, viola, adufo, caixa, machete e viola) e ainda supervisiona o trabalho dos outros na Casa Mandicuéra, tudo ao mesmo tempo. Em 28 horas de convivência, das quais mais de 8 foram de conversas sobre seu trabalho, Aorélio tocou viola, rabeca, adufo, ensaiou para a Romaria do Divino Espírito Santo (cuja saída para as ilhas e comunidades do litoral paranaense será nesta sexta-feira, 13), supervisionou o trabalho dos fabriqueiros como ele chama os alunos do seu atelier de lutheria, atendeu ao pessoal do teatro que fizeram duas apresentações na Casa e ainda recebeu os diversos visitantes e amigos e contou algumas piadas sobre a rivalidade entre as duas cidades portuárias do Paraná, Antonina e Paranaguá. Sempre de bom humor e disposto, Aorélio não dormiu mais do que duas horas, de sábado para domingo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

TRADIÇÃO, RESGATE E TRANSFORMAÇÃO


                                                                                        Texto e fotos: Silzi Mossato


Mestre Zeca é o último dos antigos tocadores de rabeca da Ilha dos Valadares. Aorélio Domingues, o primeiro da nova geração. Não foi aluno de Zeca, mas é parceiro na formação da nova geração de cantores e tocadores de fandango. O menino irrequieto cresceu na Ilha. Ao lado do avô Rodrigo Domingues vivenciou não só a dança e a música de sua gente, mas o fabricação dos instrumentos. Observando e imitando os antigos, aprendeu a tocar rabeca e viola, mas também a valorizar a própria gente e suas manifestações.

Marcio Pontes R. Ribeiro (aluno e aprendiz na oficina de construção de instrumentos), Aorélio, Mestre Zeca e Luis Fabiano Corujinha (aluno de rabeca)


 Mestre Zeca, Luis Fabiano Corujinha, Fernando Nunes Cordeiro (aluno de viola de fandango) e João Batista de Andrade (aluno de viola de fandango)





Aorélio cresceu, deixou a Ilha, cursou Artes Plasticas na EMBAP – Escola de Música e Belas Artes do Paraná - ganhou os salões de desenho do estado e voltou às origens para não deixar que o grande patrimônio imaterial de sua infância e adolescência desaparecesse.
Na direção da Casa Mandicuera cria e recria os instrumentos, buscando aperfeiçoar a arte. E a ensina. Mas vai além. Toca, canta, coordena atividades do espaço que recebe e acolhe participantes e visitantes.

Entre a distribuição de atividades, a contribuição na aula dada por Mestre Zeca e a participação nas cantorias, conta causos, faz pegadinhas e fala das atividades da Casa Mandicuera, afirmando que “ a proposta é fazer a gurizada viver o universo do fandango”. E em 28 horas de convivência, entre o inicio da tarde do sábado, dia 31 de março e o final da tarde de domingo, 01 de abril de 2012, constatamos que a proposta se realiza plenamente. E vai além. A Casa recebe e apoia outras manifestações. Durante o almoço feito no fogão à lenha, a cantoria do fandango dá lugar às modas de viola, entoadas por alunos e integrantes do grupo. Na Capela e Museu Vivo do Fandango, construída pelos participantes do grupo, os ensaios para a Romaria do Divino entram na noite. Na tarde de domingo, duas encenações da Tato Criação Cênica lotam o auditório montado especialmente para o evento.
Detalhes da Capela:
Representação do Divino e as bandeiras da Romaria

                                                Aorélio mostrando os objetos do museu


Em tempos de homogeneidade forjada pela desqualificação e consequente desaparecimento de muitas manifestações populares, a Casa Mandicuera dá lição a ser seguida. Resgata e transforma a própria cultura, oferece espaço de convivência e aprendizado, valoriza e dá sustentação aos talentos emergentes. E do meu ponto de vista, Aorélio exercita na Casa, a função paterna, organizativa e estrutural, que tem desaparecido e deixado crianças, jovens e adultos sem rumo.
Moda de viola; João Batista e Fernando com acompanhamento de Miguel Martins (Mamangava)

Mestre Zecca e mamangava com Eloir Paulo Ribeiro de Jesus (Poro), presidente da Associação,
 
 Ensaio de Marcio e Denis Lang (fabriqueiro, toca viola e estuda rabeca)

Durante o próximo mês integrantes do grupo Mandicuera percorrem parte do litoral paranaense com a Romaria do Divino. A trajetória será divulgada pelo site www.mandicuera.com. neste período serão postados diferentes vídeos das atividades na Casa Mandicuera, pelo Projeto Interface.

terça-feira, 27 de março de 2012

O MESTRE ENTRE ALUNOS - Projeto InterFace


Visita à Casa Mandicuera                                         texto e fotos: Silzi Mossato

Mestre Zeca afinava, de ouvido, os instrumento que os alunos usariam na aula que daria à seguir. Acostumado às visitas, nos recebeu com gentileza, sem deixar a ativadade. Com rapidez e agilidade passava da viola à rabeca e a outra viola e outra rabeca. E enquanto cumpria o ritual, nos mostrou, com os mesmos movimentos leves e sutis, a habilidade com um e outro instrumento. Entrecortando o som, com a fala impregnada de alegria sincera, contou sua trajetória de fandangueiro.
Mestre Zeca é, no momento, o último rabequista da Ilha dos Valadares, em Paranaguá. Os velhos mestres partiram sem deixar seguidores. Mas a Casa Mandicuera cuida para que a arte não desapareça e recebe um grupo de alunos que nas tardes de sábado deixam a cidade vizinha para ter aulas de viola e rabeca.
Na Ilha há outros grupos de Fandango: Grupo do Mestre Romão, Grupo do Mestre Brasilio e Grupo Pé de Ouro. Mestre Zeca toca em todos. E com riso esboçado, confessou que este ano, no carnaval da Ilha, que foi de fandango. tocou quatro bailes, das dez da noite às quatro da manhã, mas cansou. Os grupos se revesavam, mas ele, integrante de todos, não teve tempo pro descanso.
José Martins Filho tem cinquenta e nove anos, vive na comunidade há trinta e toca rabeca desde os catorze. A música limpa, simples e bela, sai do instrumento sem que se possa ver no tocador, qualquer sinal de esforço.
Ao lado de Jairo Paulo, vocalista de primeira voz no Grupo Mandiquera, nos presenteou com alguns clássicos, antes que os alunos chegassem.


OS ALUNOS DO MESTRE
Luis Fabiano Corujinha, João Batista de Andrade e Maria Eduarda moram em Morretes. No momento fundam um novo grupo de fandango e fazem aula com Mestre Zeca para que outros possam dançar ao som de seus instrumentos. No sábado de nossa visita trouxeram um visitante, Luiz Fernandes, dançarino de fandango, para que pudesse viver a experiência.
Luis Fabiano escolheu a rabeca como instrumento enquanto João Batista e Maria Eduarda seguem na viola. Ela, dando mobilidade à tradição, será a primeira violeira de fandango.
A prefeitura de Paranaguá, entendendo a valor da proposta, a apoia, remunerando o mestre, que sempre viveu de outros trabalhos.
A aula simplesmente acontece. Mestre Zeca na rabeca ordena, sem ditar regras, uma sequencia de atos, dando atenção a um e outro. Os olhos brilham, enquanto faz movimentos com o arco e, ao mesmo tempo, cuida dos detalhes dos movimentos de seus alunos. .

O PRÓXIMO APRENDIZ
André Bello é aprendiz no Atielier Rodrigo Domingues, oficina da Casa Mandicuera, onde o fabriqueiro Aorélio Domingues, produz e repassa sua arte. André nos conta que já construiu seis rabecas, mas vendeu. Agora constrói a sua. Tomará aulas com mestre Zeca, mas desde já, com instrumento coletivo, ensaia os movimentos e tira das cordas, os sons do fandango.

Desta maneira, na simplicidade das ações, os integrantes da Casa Mandicuera repassam e dão mobilidade à tradição, prestando um serviço essencial à nossa identidade cultural.


Projeto InterFace:
OSS e Kaaru Ara
elaboração e execução: Erly Ricci e Silzi Mossato




segunda-feira, 19 de março de 2012

LISISTRATA - Sedução e poder, no FRINGE


Representada no ano de 411 A.C., a peça de Aristófane, Lisistrata,  foi uma tentativa real de acabar com uma guerra de verdade. No palco, mulheres de Atenas, de Esparta, de Beócia e de Corinto (cidades gregas mais duramente atingidas),  cansadas da guerra e e chefiadas por Lisistrata decidem pôr fim às hostilidades usando de uma tática pouco ortodoxa: UMA GREVE DE SEXO.
Infelizmente a mensagem de Aristófanes não foi ouvida e a guerra continuou, arruinando a Grécia. Mas Lisistrata atravessou vinte e quatro séculos. A mais licenciosa das comédias de Aristófanes, pela elevação dos sentimentos que animam a heroína, pela nobreza das intenções do comediógrafo e por suas próprias qualidades como teatro, merece o lugar que ocupa no cenário mundial.
Lisitrata percorreu séculos mantendo-se o brilho da comédia e a espiritualidade que mal se dissimula por trás da crueza do argumento. 

Durante o Festival de Teatro de Curitiba,nos dias 05, 06 e 07 de abril,   os aficionados da arte poderão ver a montagem realizada pela Ferrata Produções em parceria com a OSS, no Centro Feminino de Cultura do Paraná.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Escola de sexo para homens – uma dramaturgia invulgar


Folder do espetáculo "Escola de sexo para homens"
Folder do espetáculo "Escola de sexo para homens"
Escola de Sexo para Homens é um texto de dramaturgia que trata de sexo sem apelações baratas. Não vulgariza e nem teoriza as relações de gênero.
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O texto lança nova dramaturga. Ao escolher um texto provocativo, que transita entre o riso e a emoção, a autora traz à superfície os jogos das relações de gênero, costumeiramente carregados de atalhos e dissimulações. Ultrapassando a fronteira da “mulher vitima” versus “homem vitimador” ou da “mulher liberada” versus “homem convencional” e mergulhando na complexidade das interações, insere na pauta da dramaturgia novo enfoque para o antigo tema. O texto permite que os atores contracenem com a platéia, questionando os ‘lugares comuns” das relações de gênero, sem, contudo, teorizar a respeito.
Um projeto de montagem foi aprovado pela Lei Rouanet e a autora , Maria Silzi Mossato, disponibilizou um trecho no seu blog, “Lá vem Maria”.
SINOPSE:
No palco, Beatriz, Marli e Julia, três mulheres que habitam três universos aparentemente paralelos são biografadas e, ao mesmo tempo, se desvelam através de pequenos monólogos entrelaçados. Dois atores, lançando mão de adereços e de muitos personagens, marcam a heterogeneidade do universo masculino, geralmente relegado ao segundo plano. Em suas interferências, lançam aos expectadores, versões que podem desarticular as verdades quase incontestáveis, difundidas pelas personagens. Este jogo cênico, de caráter dialético e bem humorado, percorre três atos que avançam na complexidade.
No primeiro ato apenas Beatriz e Marli ocupam o palco. A protagonista (Beatriz), usando como mote as relações pessoais e sexuais, traça o perfil da segunda personagem ao mesmo tempo em que se desnuda. Marli, atendendo às propriedades de seu rígido perfil, se revela através de suas opiniões e em cenas cotidianas, sem ater-se a outros universos.
No segundo ato a presença de Marli é suprimida ao mesmo tempo em que Julia ocupa o espaço cênico, representando um terceiro nicho feminino. A personagem, além de complementar e redirecionar o retrato imposto por Beatriz, trás em seu discurso as questões sociais que interferem na sua realização pessoal.
O ato inicia com uma interferência masculina, que depois de biografar Beatriz – a representante do universo das empreendedoras liberadas – reaparece, pontuando o outro lado das versões femininas.
As interferências masculinas crescem no terceiro ato, em forma de depoimentos. Personagens masculinos e Beatriz se alternam, construindo uma seqüência bem humorada e instigante de lances. A presença de Marli e Julia, neste ato, serve como ponto de alteridade enquanto dão pistas dos rumos de suas vidas.
A contraposição dos três universos – de Beatriz, Marli e Julia – conduzem o espetáculo, mas as incursões de personagens masculinos rompem com esta linha e funcionam como elemento de desconstrução dos estereótipos que permeiam as trajetórias das personagens. Através deste recurso, o espetáculo insinua que “pode não ser exatamente assim” e incita o espectador a revisar conceitos.

O dinamismo da cultura popular



As manifestações folclóricas são muitas vezes tratadas como uma tradição estática, reproduzidas em datas específicas e que quase nunca sofrem alterações. Mas isso é só pra quem observa de longe. De perto, o folclore é dinâmico, mutante e capaz de se adaptar as transformações.
É o que acontece, por exemplo, com o fandango paranaense. Estudiosos afirmam sempre que o fandango preserva oa refrões fixos em cada uma das suas chamadas marcas, que podem ser  bailadas(dançadas) e batidas (sapateadas, usando tamancos de madeira)  e algumas valsadas.
Há registro de muitas marcas de Fandango, próprias para cada região em que é dançado.  Anu, Xarazinho, Xará-grande, Queromana, Tonta, Chamarrita, Andorinha, Cana-Verde, Caranguejo, Vilão-de-Fita, Lageana, Sabiá, Tatu, Porca e muitas  outras variando conforme a região.
Na região de Guaraqueçaba, no Paraná, o fandango é dançado sempre depois de um mutirão de trabalho, quando o dono da casa serve bebida e comida aos convidados que trabalharam o dia todo ou na colheita ou na capina ou ainda na construção de uma casa. Esta é uma tradição fixa, a do mutirão nas comunidades, seguido de comilança e baile. Mas a música e a sua letra, muitas vezes são atuais e geralmente mostram uma crítica social, como é o caso deste vídeo “Dinheiro do peixe morto”, feito pela Casa Mandicuera, um Ponto de Cultura de Paranaguá.

Misturinha boa de violão e piano


Murillo Da Rós e Gilson Peranzzetta no Paço da Liberdade
O título acima bem que poderia ser o tema de um chorinho. Mas da música que vou falar, de choro só tem o belo e espontâneo improviso de quando se misturam dois talentos, um virtuoso no violão e outro com dedos mágicos, libertinos descaradamente feliz em brincar com as teclas do piano, como deve ser toda a alegria de quem faz o que gosta. O resultado, para quem vê e ouve é indescritível. Falo do show de Murillo Da Rós (violão) e Gilson Peranzzetta, um mestre do piano, que aconteceu no Paço da Liberdade, em Curitiba, no dia 26 de janeiro.
O show, um reencontro entre Murillo e Gilson (eles tocaram juntos em abril do ano passado no Teatro Paiol), fez parte da programação da 30ª Oficina de Música de Curitiba, um evento que reúne grandes mestres da música brasileira, do erudito ao popular, passando pelo folclore, numa maratona que durou 20 dias.
Saí do Cristo Rei, distante uns 4 km do Paço da Liberdade, para uma caminhada até o local do show, com meia hora de antecedência. O frio e a garoa típica de Curitiba apressaram meus passos. Fui caminhando pela Pe. Germano Mayer até a XV, por onde desci até a praça Santos Andrade, seguindo para a Praça José Borges de Macedo, onde cheguei pontualmente seis horas da tarde, a tempo de entrar no belíssimo prédio da antiga prefeitura – que depois abrigou o Museu Paranaense – e ver o show. Cansado da caminhada, ainda tive o privilégio de entrar pelos fundos e fotografar as mitológicas mãos de Gilson Peranzzetta (explico porque mãos mitológicas em outro post e depois que conseguir autorização do músico, já que trata-se de uma história fantástica e quem me contou, sob olhares desconfiados de Peranzzetta, foi Murillo).
O violonista Murillo Da Rós
Nenhuma das músicas eram inéditas, já foram tocadas pelos dois e por Da Rós no lançamento do CD Fênix, mas a mistura da brasilidade e improvisos de Gilson e do vigoroso flamenco jazzístico de Murillo inovou as peças de forma transcendental. Para minha sorte – e a dos leitores deste blog,obviamente – é que o show foi inteiramente gravado em vídeo que devo postar em breve. Necessário será, inclusive, para que se tenha uma ideia do que foi o show sem os olhos empolgados do blogueiro.
Depois do show, tive uma longa conversa com Murillo, Gilson e a produtora Renata Zarpellon, mas isso também será assunto para uma nova postagem.
Não posso deixar de citar as excelentes performances do percussionista Luciano Madalozzo e do baixista Glauco Solter, que podem ser conferidas no vídeo abaixo.
VÍDEO